ConfiraReportagens especiais, análises e bastidores a todo momento.Leia agora
38°C
November 22, 2025
Brasil Meio Ambiente

Relatório revela que refino da cocaína movimenta US$ 6 bilhões por ano no Brasil e coloca Amazônia no centro do tráfico global

  • novembro 1, 2025
  • 4 min read
Estudo “Floresta em Pó” mostra que Estados como Amazonas e Pará se tornaram polos de refino e logística da droga, impulsionando desmatamento e violência na região – Foto: Polícia Militar do Amazonas/ Divulgação

Porto Velho, Rondônia – Um levantamento inédito divulgado pelo projeto Intersecção, em parceria com a Coalizão Internacional pela Reforma da Política de Drogas e Justiça Ambiental, aponta que o refino da cocaína no Brasil movimenta cerca de US$ 6 bilhões por ano, valor equivalente a cinco vezes o total do Fundo Amazônia. O estudo, intitulado “Floresta em Pó”, alerta que a Amazônia brasileira se tornou o coração da engrenagem global do tráfico, conectando o crime organizado à devastação ambiental e à economia ilegal.
De acordo com o relatório, o refino representa 9% de toda a cadeia de valor da cocaína e está concentrado principalmente nos Estados do Amazonas e Pará, que antes eram apenas rotas de passagem e agora abrigam laboratórios clandestinos, portos fluviais e redes de lavagem de dinheiro.
Expansão silenciosa do refino na floresta
Entre 2019 e 2025, foram mapeados 550 laboratórios ativos de refino e adulteração da droga, segundo o Instituto Fogo Cruzado, mas as estimativas indicam que o número real pode ultrapassar 5 mil estruturas espalhadas pela Amazônia Legal.
A pesquisadora Rebeca Lerer, coordenadora do projeto Intersecção, explica que o avanço da cocaína na Amazônia é consequência direta da repressão em países produtores tradicionais.
“Com o endurecimento das operações no Peru, na Bolívia e na Colômbia, parte da produção se deslocou para o Brasil. Hoje, a Amazônia ocupa o núcleo dessa transformação, unindo refino, transporte e lavagem de capitais em escala global.”
Segundo o relatório, os lucros gerados pelo tráfico são reinvestidos em garimpos ilegais, grilagem de terras, portos clandestinos e até fundos de investimento e fintechs, criando uma cadeia que mistura economia legal e ilegal.
Tráfico, desmatamento e violência
A publicação também expõe o impacto ambiental e social do avanço do narcotráfico. A disputa por rotas fluviais e aéreas tem provocado confrontos entre facções brasileiras e grupos estrangeiros, além de impulsionar a perda de áreas de floresta.
Nos últimos 40 anos, o Brasil perdeu 111,7 milhões de hectares de cobertura vegetal, e boa parte dessa devastação está relacionada a atividades financiadas com dinheiro do tráfico.
A socióloga Nathália Oliveira, diretora da Iniciativa Negra, afirma que a chamada “guerra às drogas” se transformou em uma guerra contra os territórios.
“Povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas estão entre as maiores vítimas. A floresta virou palco de disputas armadas e da exploração desenfreada, resultado de uma política que fracassou.”
Urgência de uma nova abordagem
O estudo foi divulgado às vésperas da COP30, que ocorrerá em Belém (PA), e faz um alerta: não há desmatamento zero sem uma nova política de drogas. As autoras Jenna Rose Atwood e Clemmie James defendem que a agenda ambiental precisa incluir a justiça social e o reconhecimento das causas estruturais da proibição.
“Enquanto a guerra às drogas tratar plantas como inimigas, continuaremos alimentando a destruição. É necessário integrar políticas de drogas e direitos ecológicos nas estratégias climáticas”, destacam as pesquisadoras.
O relatório propõe o conceito de Redução de Danos Ecológicos (RDE), que busca relacionar políticas ambientais e de drogas em favor da preservação da floresta e da segurança das populações locais.
About Author

Redacao

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *